Transtorno alimentar na infância


22 de mar. de 2018




O que fazer se o seu filho não quer comer e quando prrocurar ajuda 




Sou fruto do que vejo, mas principalmente do que fazem comigo.
Tome cuidado com o mundo que você me apresenta. Tome cuidado com o que você faz da minha vida. Cuide de mim e me observe. Eu posso estar sofrendo e minha saúde sendo prejudicada!

Christiane Junqueira 

Toda vez que uma criança é acometida por dificuldades alimentares a primeira atitude dos pais ou responsáveis é procurar por médicos que possam ajudar a identificar o problema. Porém, gostaria aqui de fazer um alerta: é necessário SIM sempre procurar pelo médico pediatra da criança, mas sempre levem em consideração também a possibilidade de problemas emocionais ser o fator desencadeante desta dificuldade, e procurem por um psicólogo, porque SIM, questões de ordem emocional podem ser os causadores de dificuldades alimentares e como consequência, se não identificado que o problema é de ordem emocional e tratá-la adequadamente, pode acabar causando problemas físicos.

Vamos entender como isso acontece?


Transtornos Alimentares Na Primeira Infância

Até mesmo antes dos 6 anos de idade, a chamada primeira infância, essas dificuldades podem aparecer, e em muitos casos, a criança não consegue alimentar-se adequadamente devido a problemas emocionais, e não em função de distúrbios físicos.

Quando a criança começa a introdução alimentar é importante entender que este é um momento novo para o bebê e que mudar a forma de se alimentar nem sempre é tão prazeroso como julgamos ser. Os sabores nem sempre são tão bem aceitos como desejamos que seja e a textura e temperatura dos alimentos muitas vezes contribuem para que esse momento não seja tão agradável. Por isso, é muito importante que os pais ou responsáveis, procurem transformar este momento no mais agradável possível.

Sendo assim:
-       Ofereça o alimento de forma carinhosa e divertida;
-       Conte histórias, verdadeira ou inventadas, mas interessantes, sobre aquele tipo alimento;
-       Independente a gostar ou não do alimento, respeite, pois caso não goste, poderá voltar a oferece-lo em uma outra ocasião;
-       Não brigue, seja qual for o motivo, para que o horário das refeições seja uma descoberta prazerosa.
-       Enfim, fiquem sempre atentos, observe o que a criança mais gosta, seus hábitos, e caso o comportamento mude, procure ajuda.


Agora, vamos entender, sobre a visão de alguns autores, algo mais sério ainda que são os chamados TA’s - Transtornos Alimentares.

De acordo com Pinheiro (2011), existe um sistema de classificação que reúne resultados de várias investigações sobre o TA, e que agridem designadamente crianças, é o Great Ormond Street – GOS. Nele, estão indicados e caracterizados os seguintes TA’s:

Transtorno emocional de evitação da comida:

-       Evitação de comida na ausência de um transtorno de humor;
-       Perda de peso;
-       Alteração do estado de humor que não se enquadram em critérios para o diagnóstico de um transtorno de humor;
-       Ausência de enfermidade orgânica cerebral ou psicose.

Síndrome de *Rechaço Generalizado: (*repúdio)

-       Rechaço profundo a comer, beber, caminhar, falar ou cuidar-se;
-       Resistência aos esforços por ajudá-las. Essa condição pode ser uma forma extrema de stress pós-traumático em casos de suspeita ou evidências de abusos.

Fobias relacionadas à ingestão de comidas ou disfagia funcional:

-       Evitação de comida;
-       Medo de engolir, engasgar, vomitar ou ter diarreias;
-       Ausência de enfermidade orgânica cerebral ou psicose

Transtorno da compulsão alimentar periódica:

- Episódios frequentes de compulsão caracterizados por comer sem fome e sentimento de perda de controle, que estão associados a: comer como resposta a um sentimento negativo ou como recompensa de algo.

Além do Great Ormond Street – GOS, estudado por Pinheiro, (2011), veremos também outros transtornos:

Transtorno De Regurgitação 

Este é um caso aonde há uma grande dificuldade na deglutição, de forma que a criança devolve o alimento para a boca, mastiga-o e engole-o novamente. Trata-se de episódios de regurgitação (ou remastigação) repetidos que não podem ser explicados por nenhuma condição médica e podem causar desnutrição, perda de peso, desidratação e morte (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

Este transtorno mais comum em pacientes com transtornos do espectro do autismo ou com algum grau de atraso no desenvolvimento cognitivo, porém, pode aparecer em crianças que tenham algum problema na relação com os pais ou cuidadores ou que adquiriram um comportamento reforçado inadequadamente.

Nesse caso, é sempre indicado um tratamento terapêutico aonde seja realizado a análise do comportamento da criança, do comportamento dos pais e de como se desenvolve a dinâmica familiar.

Transtorno Da Seletividade Alimentar

Esse transtorno também é conhecido como Picky Eating, que consiste na recusa a certos tipos de alimentos, devido à textura, ao aroma ou à cor, temperatura (alimentos quentes ou gelados), ou no tipo de alimento (não come carne, por exemplo).

Esse problema é mais comum em crianças que sofrem com transtornos de ansiedade e autismo.

Entre os fatores emocionais desencadeantes, como a evocação de um mal-estar causado pela comida que pode ser devido a associação a algo desprazeroso, ou falhas emocionais na introdução alimentar, temos as consequências que também podem ser emocionais, com problemas na interação social, visto que grande parte dos eventos sociais envolvem algum tipo de comida e a criança se sentirá excluída e também os prejuízos a saúde com possíveis deficiências nutricionais.  

Pica Do Lactente

Felizmente, trata-se de um transtorno bastante raro, que acomete crianças vítimas de alguma forma de agressão ou que apresentam algum distúrbio psicológico, como depressão ou autismo.

Este transtorno se caracteriza por pacientes que ingerem persistentemente materiais/substancias que não são alimentos, como: terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro, fezes de animais insetos e tinta de parede. Muitos problemas clínicos podem ocorrer, relacionados com o sistema digestivo e com intoxicações ocasionais, dependendo do agente ingerido. (APPOLINÁRIO; CLAUDINO,2000)

Transtornos Alimentares Em Crianças Mais Velhas 

Neste caso é imprescindível que os pais sejam atentos ao comportamento dos filhos, pois só assim perceberão mudanças no comportamento  alimentar dos mesmo, que podem indicar, algum problema emocional de ordem social, por exemplo, mas também um transtorno grave como a Anorexia ou a Bulimia onde existe um padrão de alimentação fora do normal e uma percepção deturpada da própria imagem.

Anorexia

Este transtorno segue os seguintes sintomas diagnósticos, segundo CORDAS, 2004:
-       Perda voluntária de peso,
-       Cognições anormais sobre o peso e a figura, (visão distorcida de sua imagem corporal),
-       Preocupação patológica sobre o peso e a figura.
O desejo exagerado pelo corpo magro, leva à restrição alimentar, insatisfação com a própria aparência e medo de engordar. Porém, a preocupação excessiva com algumas questões dão sinais deste transtorno como: calorias dos alimentos, servir-se com porções reduzidas, negar alguns alimentos ou ate mesmo negar alimentar-se, pesagens repetidas, tirar medidas do corpo com frequencia, analisar seu corpo no espelho ou qualquer comportamento que indique preocupação excessiva com peso/auto imagem. 

Bulimia

Este transtorno segue os seguintes sintomas diagnósticos, segundo CORDAS, 2004:
-       Episódios de ingestão exagerada (compulsão alimentar) sequenciados por episódios compensatórios de vômitos autoprovocados,
-       Sentimento de perda de controle,
-       Preocupação patológica com peso ou figura.
Na Bulimia, há uma desordem alimentar, que gera no individuo uma compulsão muito grande em ingerir muita comida, porém é tomada por um sentimento de culpa/arrependimento por medo de engordar. Neste caso os pais devem observar se a criança apresenta ansiedade para sair da mesa logo após as refeições, normalmente para ir ao banheiro e se há algum indício de que a criança esteja se escondendo para comer compulsivamente.

Nos dois casos é importante ainda, que as questões de autoimagem sejam trabalhadas desde sedo com as crianças e não apenas quando o problema esta acontecendo, para que cresçam e aceitem a sua imagem e não uma imagem criada por elas ou pela sociedade.  

Tratamento

Toda a suspeita, assim como tratamento de TA, deve ser sempre encaminhado e  acompanhado pelo seguintes profissionais; médico pediatra, psicólogo e nutricionista.

REFERÊNCIAS

APPOLINÁRIO, J.C.; CLAUDINO, A.M. Transtornos alimentares. Rev. Bras. Psiquiatr., v.22, n.2, p.28-31, 2000.

CORDÁS, T.A. Transtornos alimentares: classificação e diagnóstico. Rev. Psiquiatr. Clín., v. 31, n. 4, p. 154-157, 2004.
PINHEIRO, N. P. Classificação e Diagnóstico de Transtornos Alimentares na Infância: Nem DSM, nem CID-10. Psicol. Pesq., v. 5, n. 1, 2011.



Christiane Junqueira, psicóloga, especialista em Psicologia Hospitalar pela FMABC – Faculdade de Medicina do ABC, Neuropsicologia pelo INESP – Instituto Neurológico de São Paulo e aprimoramento em Reabilitação Cognitiva também pelo INESP

5 comentários:

  1. Nossa! Post super completo! Aqui em casa não temos muito problemas com isso, mas informação é sempre bom!

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  2. Puxa, não imaginava que esses transtornos podiam acontecer na infância. Muito bom ter mais informações assim.

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  3. Oi Mari!
    Adorei. Gracas a Deus por aqui não temos problemas. Mais informação é essencial!

    Bjus

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  4. Excelente post e assunto muito pouco abordado.
    Vou compartilhar no meu grupo de mães.

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  5. Caramba, eu não tinha noção de tantas possibilidades de transtornos alimentares em crianças. Bem informativo o post.
    beijos
    Chris

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